Tenho uma dúvida que gostaria de ver esclarecida. Por que razão, neste país, são poucas as coisas que funcionam realmente bem?
Situação 1)
Por exemplo, já imaginaram a dificuldade que pode um cidadão sentir se desejar encomendar, via telefone, uma pizza?
Empresa: uma multinacional a operar em Portugal, com o serviço de take-away.
Chamada telefónica não gratuita, a acrescentar ao preço da pizza, que, por si, já não é barata.
Empresa: - Qual é o menu que deseja?
Kapitão: - Olhe, eu não tenho a publicidade aqui, mas vi a informação na net e gostaria de encomendar uma pizza, para me trazerem a casa.
Empresa: - Claro que sim. Dê-me os seus dados.
Kapitão: - ………………………………………..
Empresa: - E qual é a pizza?
Kapitão: - Quais são as pizzas que têm?
Empresa: - Ora, isso está no folheto.
Kapitão: - Pois, mas eu já lhe disse que não recebo os folhetos de publicidade. Olhe queria uma pizza do mar….
Empresa: - Não temos pizzas com esse nome…
Kapitão: - Oiça, eu quero uma pizza que leve marisco, frutos do mar e…. e o que vocês costumam lá colocar…
Empresa: - Então diga lá os ingredientes para eu tomar nota.
Kapitão: - Oh Senhora, eu não sei quais são os ingredientes que se usam para fazer uma pizza.
Empresa: - Então, se não sabe, como é que vai escolher?
Kapitão: - Vocês não têm nada similar?
Empresa: - Olhe, eu não percebo a língua que o senhor fala.
Kapitão: - Minha senhora, esqueça, já perdi a vontade de comer pizza. Muito obrigado.
Quase 15 minutos ao telefone, a gastar dinheiro, e a não conseguir que me preparassem o jantar…. Mas a publicidade, oh, a publicidade!!!!!
Situação 2)
Posto dos correios. A minha tentativa desesperada para enviar, numa encomenda, dois livros para um país europeu.
Kapitão: - Boa tarde. Queria enviar esta encomenda, por favor.
Funcionária: - Com certeza. (Coloca a encomenda na balança, ergue o sobrolho, esboça um ar de admiração e fita-me carrancuda) Oh! Mas tem mais de 2kgs!!!!
Kapitão: - Desculpe, mas não percebi. Qual é o problema?
Funcionária: - Isto não pode ter mais de 2kgs!
Kapitão: - Como ?!??? Então, como é que exportam coisas para outros países? Não me diga que agora têm que desmontar tudo e enviar em peças pequeninas?!???
A funcionária, reencarnando a pele de um agente sinistro da inquisição ou de alguma polícia política de mau nome, levanta-se, encara-me e fuzila-me com uma questão:
Funcionária: - O que é que isto leva dentro?
Kapitão: - Dois livros (respondo com naturalidade).
A funcionária mira-me durante uns segundos, olha para a encomenda e, qual sibila afirma assertivamente:
Funcionária: - Isto não são livros!
Confesso que comecei a ficar irritado. Quem era aquela criaturazinha para, olhando para uma encomenda, se atrever a afirmar, contra a minha palavra, que o que tinha na frente não eram livros?
Kapitão: - São livros sim, minha senhora.
Funcionária: - Impossível!
Suspirei fundo. Olhei para o relógio. Dez minutos já perdidos. O carro estacionado em 2ª fila, na rua. E aquela idiota a fazer-me perder tempo.
Vai daí, a criatura puxa de uma tesoura e começa a desfazer-me a encomenda.
Kapitão: - Eiiii! O que é isto? Quem é que a senhora se julga?
Funcionária: - Eu tenho que verificar o conteúdo da embalagem.
Kapitão: - Faça favor, verifique tudo ao pormenor. Olhe, já agora, tenha cuidado ao abrir a embalagem, não vá estourar-lhe nas mãos alguma que não esteja à espera!
Qual Madonna irada, encarou-me e rasgou a encomenda. Começou por apalpar o estranho e inusitado objecto. Eu esbocei um largo sorriso e encarei-a. Devagarinho, foi puxando o objecto para fora até sair um belo livro, de cerca de 800 páginas, ficando o outro lá dentro. Nesse momento, inquiri-a:
Kapitão: - Então? O que é que a douta senhora considera que tem nas vossas mãos?
Funcionária: - Isto não é um livro.
Não pude deixar de dar uma sonora gargalhada. Nesse momento, virei-me para trás: a fila já ia até à porta. Deveriam estar lá umas 20 pessoas.
Kapitão: - Ai não?!? Então, o que é?
Funcionária: - Os livros que eu conheço não são assim. São mais finos.
Reparei, nesse momento, que na prateleira se anunciavam os últimos sucessos de um qualquer diário dos Morangos com Açúcar. Irritei-me.
Kapitão: - Minha senhora, já me pude aperceber que o seu conceito de cultura não ultrapasse os limites exíguos da magna e canónica literatura dos Morangos, mas, creia-me, que existe um mundo muito mais vasto do que aquilo que a sua exígua inteligência consegue assimilar e, dado que estou aqui, enquanto cliente, a pagar um serviço, eu exijo que o mesmo seja executado com diligência e educação. E com respeito. Por isso, faça o favor de voltar a colocar o livro dentro da embalagem, feche-a na minha presença e despache-a para o destino. E sem mais demoras!
Nesse momento, apareceu o superior hierárquico que me pediu imensas desculpas pelo sucedido.
A encomenda lá foi despachada depois de uma perda de meia hora, uma grande dose de irritação, 25 euros de custo (!!!), e a triste constatação da ineficiência de um serviço que deveria funcionar minimamente.
A questão que eu coloco é tão simplesmente esta: como pode alguém querer investir dinheiro nesta terra quando aquilo que, aparentemente, deveria ser simples não funciona? É assim que caminhamos para aumentar a produtividade?
E já que estamos em maré de colocar questões, será que alguém me explica a razão pela qual não é possível comprar, com 1 ou 2 dias de antecedência, um bilhete para os comboios urbanos, ou sequer comprar esse bilhete numa estação diferente da da viagem? Pode parecer uma questão menor, mas quando, por razões de ligações, só temos 6 minutos (isto se o comboio não atrasar !!!!) para correr de um cais para outro, e ainda temos que ir enfrentar as máquinas para adquirir o bilhete, essa pode ser uma situação totalmente perdida….
Enfim, como dizia um amigo meu, este é o nosso país e temos que aprender a viver nele. Mas que ele é bem caótico, lá isso é.