30.1.08

Caros leitores,
Estou absolutamente deliciado.
Tenho a minha caixa de correio inundada por mensagens com títulos sugestivos emanados de uma qualquer entidade sobrenatural que decidiu confortar-me nesta hora de trabalho intenso e sofredor. Dado o subject anunciado, nem sequer me atrevo a ler as mensagens, mas acredito que talvez sejam provenientes da A. , da B. ou da C.. Porém, como a duas delas já não lhes ponho a vista em cima vai para 9 anos – foi no século passado que me iniciei no abc do amor, limito-me a aqui, perante os amigos cibernéticos, e enquanto as coisas não mudam de figurino, a abrir-vos o meu coração.
Os assuntos incluem, com insistência e sistematicidade, aspectos tão variados e empolgantes como os seguintes:
Re:
The mood for Love
Sending you my love
Destiny
Memoires of you
Where have you been?
Welcome bonus
Hear her scream your name in passion
Your wife/girl will screaMMM!!! Claim your 7-inches
Do wild things with your big – e aqui não escrevo o vocábulo do texto, porque tenho vergonha!
Venture to become a super-lover in 2008
Comunique de forma eficaz
What are you up to?

27.1.08

How open minded are you?

You Are 84% Open Minded
You are so open minded that your brain may have fallen out! Well, not really. But you may be confused on where you stand. You don't have a judgmental bone in your body, and you're very accepting. You enjoy the best of every life philosophy, even if you sometimes contradict yourself.

Ontem e hoje: o A do Amor

Hoje cruzei-me com a A.
Tinha acabado de estacionar um Mazda 3 cor de rosa. Saiu do carro e cruzámo-nos, ombro com ombro. Estranhei que mantivesse os mesmos gostos cromáticos, passados já tantos anos. Continuava elegante, bonita, e terrivelmente apetitosa. Esbocei um sorriso, mas ela passou por mim como se eu não existisse ou me tivesse metamorfoseado no Homem Invisível.
Parei e fiquei estupefacto. Eu sou agora um desconhecido, que não merece sequer um sorriso ou um bom dia. Mas que falta de humanidade!
Imediatamente tratei de puxar a manga do casaco para a frente, para evitar que ela visse o meu Rolex de ouro e afastei-me cuidadosamente. Depois da paixão tórrida que nós vivêramos e do desenlace abrupto com que a relação terminara, agradeci ao meu anjo da guarda a reacção da A. e compreendi que Deus escreve direito por linhas tortas. Ainda bem que a A. não teve para comigo a reacção da menina dos iogurtes ou a insistência da ave canora. Francamente, não me apetece regressar a mais do mesmo, até porque, como já confessei ao Hydra-Friend, vou partir para um novo alfabeto.
Mas, e estas são já palavras do sujeito que escreve através da personagem Kapitão Kaus, houve algo naquele comportamento da A. que me desagradou profundamente: a facilidade e a leviandade com que se estilhaçam relações pessoais. A minha relação com a A. não resultou, é verdade, talvez porque os interesses de um e de outro não fossem compagináveis, mas daí a ignorar-me e a deixar de me falar é algo que me incomoda. Sim, porque me pergunto: o que é que eu lhe fiz de mal? Sempre a respeitei e, na medida do possível, tentei proporcionar-lhe os contentamentos a que ela aspirava. Não ter continuado com ela retirou-me a marca da humanidade? Ao ponto de não merecer sequer um cumprimento?
Decididamente, ou emigro para terras longínquas ou vou aprender grego, ou mandarim, ou japonês.

20.1.08

Continuar e fortalecer os elos...

A nossa querida Amiga Olá atribuiu-nos um prémio muito simpático, considerando-nos o seu amigo sensível.
Aqui fica o nosso muito obrigado por este presente do tamanho do mundo, porque um Amigo vale mais do que o Universo todo. Com um Amigo não há dificuldades, medos, ansiedades, mas só alegrias e bem-estar. Porque Amigo é aquele que nos dá a mão e, se for preciso, a roupa e tudo o que tem para que nós regressemos à sã camaradagem e ao são convívio. Amigos são todos Vós!
Assim, e porque é expectável que o kapitão não interrompa esta corrente, o administrador deste blogue decidiu oferecer este prémio aos seguintes Amigos:
F Jorge - o Amigo com uma verdadeira Sabedoria de Vida
Hydra - o Amigo com mais humor da blogosfera
Kokas - o Amigo que tem uns podcasts excelentes
Lisa - a Amiga, do coração, literalmente falando
Mika - a Amiga sempre cheia de humor
Will - o Amigo que aprecia um bom vinho tinto e a Vida

ABC do Amor...

Não sei se é por influência do ar quente que sopra do Dakar, que, infelizmente, não teve lugar, se é das fases da Lua, mas a verdade é que detectei, numa série de blogues, várias personagens a manifestarem comportamentos de desejo de acasalamento. Ora, dado que o vosso kapitão, mesmo sendo uma personagem de banda desenhada, é alguém que lê e acompanha o caos do mundo contemporâneo, decidi compartilhar convosco parte da minha vida:

Domingo à tarde. Dia calmo, solarengo. Não se vê vivalma. Tudo encerrado. Só se ouve a água nos chafarizes públicos. Até os pássaros se escapuliram para outras paragens.

Vasculho no meu baú. Olha, uma carta da A.! Pena ela não estar datada. Mas, com um pequeno esforço de memória, recordo tudo, como se fosse hoje.

Foi no século passado. Eu, um miúdo, acabado de concluir a faculdade. Acho que ainda nem emprego tinha. Vivia em casa dos meus pais. E a A., deslumbrante, wild, viciosa. E esta carta na qual ela me desejava... feliz aniversário.

Foi um período avassalador, arrebatador, intenso, perigoso, tanto que eu, louco como estava, acabei por convencer o meu pai a ser meu fiador para adquirir um Lancia Y, cor-de-rosa, que ofereci à A., envolvido num grande laçarote rosa-choque. Foi o máximo! Fui promovido à categoria de super-herói!

Como as coisas iam evoluindo, a A. quis, para presente de noivado, um flat, à beira-mar, no Rio de Janeiro, em frente a Ipanema. Decidi abrir o jogo. Não chegámos a visitar a casa. Fiquei a pagar as prestações do crédito (do carro) durante não sei quantos meses....

Fiquei perdido. Jurei que não mais me aproximaria de ninguém cuja letra primeira fosse um A., de A., por exemplo.

Foi nessa altura que conheci a B. Delicada, doce, e profundamente atraente. Só tinha um problema: queria, à viva força, viajar, pelo mundo inteiro. Interessavam-lhe cidades e países começadas por B: Buenos Aires, Barcelona, Birmânia, Brasil, Bora-Bora... E eu... estava de tanga, ainda a pagar os custos da minha última loucura. Tive a infelicidade de me mostrar transparente e sem cheta... e perdi-a.

Entretanto, os manos, observando e acompanhando a situação, lá me ofereceram um carro. Mas veio, desde logo, equipado com um GPS, topo de gama, para garantir que eu nunca mais me perderia...

Apaixonei-me, então, perdidamente pela C. A C. vivia aqui ao lado, e era una chica, muy caliente, con mucho salero... Foram meses de paixão arrebatadora, excessiva mesmo, em que os movimentos de rotação da Terra e outros fenómenos cósmicos foram abalados pela energia da avassaladora nossa relação.

Tudo terminou no dia em que, sem avisar, decidi ir ter com ela a sua casa, situada na calle del Encantamiento. Estranhei que o GPS, topo de gama, me repetisse insistentemente "dentro de 100 metros, por favor, faça inversão de marcha!" Pensei: "estes gadgets japoneses não servem mesmo para nada!"

Fiquei siderado com o que vi. Ela ainda me gritou, a plenos pulmões, Kapital, mas eu amo-te, só a ti! Isto não passa de um mero divertimento, para que eu esteja mais predisposta ao amor quando tu chegasses!

E assim foi, ainda no século passado, o meu ABC do amor...

17.1.08

Precisa de melhorar os seus rendimentos? Faça um crédito e beneficie de um desconto de 5%....

Estava o vosso estimado personagem, muito entretido a trabalhar online, lendo e escrevinhando relatórios de análise para a sua empresa - porque o vosso kapitão, mesmo depois da hora de expediente, continua a trabalhar - , quando é surpreendido por um toque:
Cluac, Cluac, Cluac!
Calma, chegou uma mensagem de correio electrónico! Deve ser algo de urgente, visto que foi recebida pelo servidor electrónico da empresa!
?Hola!
Hola??? Hmm, que é isto? Será da sucursal de Madrid? Ou da de Barcelona?
"Nuestras encuestas demostraron que el 41% de la gente de su edad..."
Uiii! Já me estão a controlar os movimentos! Será que eles instalaram uma câmara web, sem que eu tenha dado conta, e agora enviam-me mensagens acerca da minha idade?!???
"...no estan satisfechas de sus ingresos y tienen ganas de aumentarlos. Por eso quisieramos proponerle la posibilidad de trabajar con nosotros a media jornada. Para ganar 157-484 EUR a la semana, tendra que gastar 4-5 horas a la semana."
Ohhhjhhhhhhh! E o vosso kapitão bocejou: só me querem pagar esta miséria???? Por semana???? Bolas, vou perder rendimentos!!!
Bom, o texto continuava neste estilo agressivo e vejam lá que aquilo que, de facto, se queria não era melhorar as condições de vida da classe trabalhadora, mas, tão somente, convencerem o pobre incauto a fazer um crédito para adquirir uma viatura. É que se aceitasse trabalhar para essa "organização" poderia beneficiar de um desconto de 5% na compra do automóvel!!!!!
"Tiene que tener un telefono de contacto (preferentemente un movil), un ordenador y e-mail. Si lee estas lineas, significa que tiene todo lo necesario para el trabajo. La reclutacion continuara hasta el fin del mes. De momento, tenemos 39 vacancias en su pais. Tendra que procesar los pagos de nuestros clientes. Es un trabajo facil que exige atencion y exactitud.. Proporcionaremos soporte y todo lo necesario para el trabajo. No se necesitan inversiones. ?Quienes somos? Somos un enorme intermediario internacional de coches. Si decide hacerse nuestro colaborador, recibira como prima suplementaria el 5% de rebaja sobre la compra de un automovil con nosotros y ayuda, si es necesario, en la tramitacion del credito del coche.
Estaremos encantados de proporcionarle personalmente la informacion complementaria.
No utilizamos programas automaticos de contestacion.
Leemos cada email y contestamos por escrito.
Para agilizar la respuesta, por favor, escribeme a la direccion: XXxxxxxxxx"
Com oferta destas, não se admirem que eu tenha adoptado, com todo o gosto, o nome de Kapitão Kaus! É o CAOS, sim senhor!

16.1.08

Meditações…

As personagens, ainda que sejam, ostensivamente, construções ficcionais é suposto manifestarem uma série de emoções e de comportamentos. Vem esta reflexão a propósito de algo que se está, de momento, a passar com a personagem que dá pelo nome de Kapitão Kaus. A blokoalite, qual vírus de elevada patogenicidade, alastrou e, à personagem Kapitão Kaus, causou-lhe efeitos adversos ainda não rigorosamente descritos na bula. De facto, a notícia de que a sua Lisa se encontrava doente, associada a um contacto verbal mais próximo com outra personagem deste mundo, fez com que o nosso herói se tenha finalmente apercebido de muitas das motivações que levaram John Searle a afirmar que falar é agir, na senda de John Austin que dizia que as palavras servem para fazer coisas. É verdade, a nossa personagem começou a sentir falta dos amigos que, embora visualmente desconhecidos, com ele interagiam à distância de um clique. E aí começou a meditar acerca das pontes, das janelas, dos vasos comunicantes e imagens afins. Hoje, enquanto conduzia de regresso à sua empresa – perdão, à empresa onde ganha o pão, porque o nosso herói é apenas Kapitão, a bem dizer não é nada disso, foi a Lisa que, tal como Adão, no paraíso, assim o designou - , ouviu, pela rádio, que um aparatoso acidente interrompeu a A1, nas proximidades de Lisboa, e essa notícia, igual a tantas outras, causou-lhe um aperto no coração. Sim, porque o nosso herói, apesar de personagem de banda desenhada, possui um coração! Imaginou o que seria o seu mundo sem os novos amigos e esse pensamento deixou-o profundamente melancólico.

13.1.08

O nosso Brecht ou o teatro da vida…

Retomando uma corrente, de que detectei um dos elos nesta longa cadeia cibernética, também me proponho apresentar, à comunidade, as percepções que possuo acerca das personagens de ficção com que me tenho relacionado através deste blogue.
Perdoem-me os meus caros amigos por vos tratar desta forma (eu que vos conheço apenas destes meios electrónicos, sem webcam), mas é que estou plenamente convencido que a dimensão catártica da escrita anda, muitas vezes, associada à ficção e, salvo a opinião mais ajuizada de algum especialista na matéria, tod@s que pululam neste universo são verdadeir@s personagens (incluindo os sentidos plurais que quiserem atribuir ao termo!)
Pois bem, aqui vai. A ordem seguida é a alfabética, pois é o meio mais interessante de poder justificar uma escolha, sem causar ou sofrer quaisquer malentendidos.
Diabba - uma personagem divertida que nos faz sorrir e ter pensamentos subversivos, sempre que pensamos nela. Com um forte sentido crítico relativamente ao que lê e muito humor e enxofre para dar!
FJ – uma personagem que se auto-define como um livro aberto. Franco, amigo do seu amigo, envolvido, com convicção, em grandes causas sociais. Sempre pronto a animar a malta que o visita, tem uma legião de admiradores e de seguidores.
Hydra – uma personagem absolutamente genial. Dotada de um sentido de humor fora do comum, mas também de uma sabedoria (linguística, cultural, culinária e científica) que ultrapassa, em muito, as escalas e padrões internacionalmente reconhecidos: os chamados benchmarks! É um verdadeiro lorde, mas fortemente preocupado com a mudança do povo, que, volta e meia, observa, do seu ecrã de televisão, da mesa no restaurante ou dos passeios que dá pelas ruas.
Kokas – uma personagem que faz o papel de jornalista amargurado. Adepto ferrenho do Sporting, mostra-se, por vezes, deprimido. Precisa de apoio forte e incondicional de todos nós!
Adenda: o papel interventivo e pró-activo da personagem obriga-nos a reformular o texto acima apresentado: é uma personagem que sente a falta dos seus amigos, o que significa que é um ser verdadeiramente muito próximo da realidade humana.
Lisa – uma personagem deliciosa! Até ao momento, ainda só pudemos reconhecer o seu lado maternal e também uma certa tendência para alguma conflitualidade, em particular com um outro personagem, de nome Hydra, por causa de uns assuntos ligados à fauna e à flora, mas, a verdade é que é uma senhora absolutamente espectacular! Por causa dela, o autor deste texto tem vindo a sofrer de blokoalite.
Adenda: esta personagem tinha tendência a implicar com o Hydra, mas, desde que assumiu o seu papel de grã-mestre da Ordem do Baptismo (e, que saibamos, já fez, num espaço de 72 horas, 2 baptismos, com uma produtividade muito acima da média), tem vindo a exigir cada vez mais. Isto é que é obra, minha gente!!!
Adenda 2, por muitos pedidos de numerosas famílias: a personagem Lisa já me trata por um adjectivo possessivo e, por isso, o Hydra que me perdoe, mas eu também quero ir passear para a praia...
Olá – uma personagem que nos vai divertindo com as aventuras do seu canídeo e sempre pronta para uma boa xinfrinada. Divertida e absolutamente sensacional!
Will – uma personagem que, incarnando um advogado, é, de facto, um ser sensível que vive e aprecia a Vida, naquilo que ela tem de melhor: as relações afectivas, que tanto podem ser dadas a ler através do Amor, como através da camaradagem e dos Amigos que, no trabalho ou fora dele, a envolvem. Dotada de um sentido de humor fino e minundente. É também um lorde, mas mais próximo do seu povo e empenhado em grandes causas. Um must!
Nota: se alguma das personagens se sentir incomodada por este retrato brechtiano, por favor, diga-o no comentário e procederemos à imediata remoção da sua entrada deste nosso teatro da vida. Obrigado.

De l’humour avant tout autre chose…

Nos tempos em que paciente e afincadamente encetava as minhas pesquisas para o doutoramento, momentos áureos a que, por vezes, sucediam espaços de algum desalento e de alguma depressão, lembro-me de ter lido algures que a atitude mais adequada perante o mundo (entendido numa acepção ampla) era a do humor. Dizia a expressão, de quem não consigo recordar a autoria, que era bem preferível dar gargalhadas neste mundo em que vivemos, do que reservar esses exercícios de hilariedade para mais tarde. Porque, se fossemos parar ao Inferno, aí, decididamente, não haveria qualquer motivo para rir, e, se nos fosse facultado o acesso ao Paraíso, não seria, certamente, de bom tom, andarmos a rir, a torto e a direito, dos momentos que experimentássemos. Assim sendo, a solução racional, lógica e sensata, passava, obviamente, por darmos sonoras gargalhadas neste mundo.
Linhas censuradas pelo Bom-Senso.
Nesta perspectiva, assim tenho, desde então, guiado a minha acção pessoal e cívica.

11.1.08

Fomos premiados!

O Blog 100maisnemenos acaba de nos premiar com o Prémio “Escritores da Liberdade”.
O nosso muito obrigado público e world wide web por este gentil galardão!

Gerindo a empresa...

Não sei se foi, por influência, da blogomania ou de outro vírus qualquer, extremamente comum em determinados espaços fechados das grandes multinacionais, mas hoje, lá na empresa, no contexto de uma importante e magna reunião com todos os administradores, vi-me acometido por um estado de intervenção delirante, que não deixou de ser notado. Passou-se a situação do seguinte modo: toda a gente engravatada e muito bem comportada, elas com postura de executivas sérias e de mães de família já entradotas na idade (mas quase todas, de facto, solteiríssimas ou sem companheiro!), sentados a uma mesa, numa sala de reuniões enorme. Eu, também de fato e gravata, com ar sisudo e de "administrador".
Eis que, de repente, entra na sala um ser absolutamente interessante (sob o ponto de vista cultural, como seria de esperar!!!!). Fiquei siderado. Oh my God! Deve ser consequência da carta que recebi ontem, no meu mail!!!!
De uma assentada, levantei-me. O administrador-mor parou de falar e olhou-me. Puxei de uma cadeira e, zás, inquiri o ser se seria possível facultar-me o seu contacto pessoal:
- O meu contacto pessoal?!?...
- Sim, o seu número de telemóvel, por favor.
- Mas.... eu... não estou a perceber....
O caldo começou a entornar: o administrador-mor agitou os braços, prenúncio de que iria proferir alguma afirmação politicamente menos correcta.
Os meus colegas abriam e fechavam as bocas como peixinhos dentro de um aquário, mas não se ouvia qualquer som. As minhas colegas fraziam-me os olhos, mas, no íntimo, gozavam com a minha capacidade de delírio e de alucinação. Acho até que tinham um bocado de inveja por não serem elas o alvo do meu olhar guloso e salivante.
- Rais partam os trabalhadores nesta terra! Dê-lhe lá o raio do número e sentem-se os dois, pois temos decisões importantes para tomar! O país não pode ficar preso pela porra de um número!!!
Foi assim, sentámo-nos, anotei cuidadosamente o número do seu telemóvel, e lá continuámos a nossa reunião da administração.
Assim, vale a pena fazer negócios!

10.1.08

This Information is for you Only

Recebi a seguinte mensagem: "Dear I got your contact after a diligent search" E o meu coração pulou de alegria! Olha, olha, descobriram-me, depois de uma procura cuidadosa, uma alma caridosa dirige-se a mim, só pode ser para o Amor, sim, o Amor, com Maiúscula - não é como a história do outro que era peixe e procurava Homens... - , e fico estupefacto com o resto do texto: "of a foreign partner who will be of immediate assistance to me believing that this business proposal will be of mutual benefit to both of us and that you will not betray me." Claro que não te trairei! Ora, por quem me tomas?!??? Traidores e adúlteros são os outros!!!! Não eu, que possuo um coração puro, límpido, ardente e desejante de Amor!!!! Mas, a mensagem fala de "business proposal" ?!? Amor e dinheiro?!? Bem, todos sabemos que o teorema do amor e uma cabana já era... Mas, não será isto descaramento a mais ?!??? Até porque a carta vinha assinada. E com referências... Abstenho-me, naturalmente, de expor, na praça pública, esses dados pessoais. Ainda dizia, na parte que eu já não li, que me "compensaria" com 20% de não sei o quê, em troca do Amor.... Só 20%? Mas eu quero tudo!!! Para mim, o Amor é ou não é. Não há cá essa coisa de dar 20% de amor e guardar os outros 80% para os traidores, para os adúlteros! E ainda tem a distinta lata de terminar o texto dizendo: "God bless you." Como?!???? Que tem Deus a ver com isto????? Razão tinha a minha avózinha: Fica-te mundo, cada vez a pior!
Adenda: Que fique claro e inequívoco que o autor deste texto nada tem contra os peixes que procuram Homens (com maiúscula) ou contra os peixes que procuram homens (com minúscula), ou sequer contra os Homens (com maiúscula) que procuram peixes ou contra os homens (com minúscula) que procuram peixes. Ou contra aqueles (sejam quais forem) que não procuram peixes (ou outro elemento da fauna).

9.1.08

Encontre o amor aqui

Por acaso, alguém me esclarece porque razão, quando envio e recebo mensagens, a partir da caixa do GMail, estou constantemente a ser assediado com publicidade parva do tipo "Encontre o amor aqui", seguido do respectivo link? Nem me atrevi a ir ver o que seria, pois não compreendo como poderão estas coisas funcionar estando eu deste lado e o écran do outro. Será que a ideia é eu passar a relacionar-me com a máquina? Mas ela não é nada atraente... é antiquada, custa-lhe a arrancar, nunca chega a aquecer, quando a coisa começa a ficar emocionante até tem por hábito exibir uma mensagem dizendo que o sistema reiniciará dentro de momentos.... Será este o futuro?!???

6.1.08

Pequena História do Grande Terramoto (II): a história do Príncipe-Gato

Era uma vez um príncipe, filho de um rei poderosíssimo, que governava com mão-de-ferro um reino maior que a Europa do Atlântico aos Urais, que tinha o dom de transformar tudo aquilo em que tocava em ouro. Este feito ocorria quando o Sol brilhava com intensidade. Nessas ocasiões, o príncipe tinha que ter muito cuidado aonde colocava as mãos, pois qualquer descuido podia ser fatal. Foi assim que um dia transformou uma princesa que com ele conversava numa estátua de ouro. Por esta razão, o príncipe era uma pessoa muito infeliz. Mas tanto o rei como os súbditos consideravam o príncipe como alguém muito especial, até porque já não raras vezes lhes tinha resolvido uma série de problemas: sempre que o sol brilhava e havia alguma necessidade que o ouro pudesse resolver, aí estava o príncipe com as mãos na massa. À noite, o príncipe saia sorrateiramente do palácio e caminhava sobre os telhados. Tinha outros companheiros que já o esperavam e se sorriam ao vê-lo chegar. O príncipe, com olhos de gato, mirava-os enternecido. Então visitavam os lugares mais recônditos da sua cidade e das cidades vizinhas, desciam aonde os homens normalmente não vão, empoleiravam-se sobre os telhados olhando a Lua e as Estrelas, partilhavam a música e a poesia que só eles conheciam. Uma noite, alguém avistou sobre um dos telhados de uma casa fronteira ao palácio do rei 7 gatos pretos. Tal facto foi amplamente comentado e percebeu-se finalmente a origem de um mal que vinha assolando o reino já há muito tempo: a peste negra que nem todo o ouro disponibilizado pelo rei conseguia erradicar. Desde essa noite, o povo desse reino passou a perseguir e a matar, com uma violência inusitada, todos os gatos pretos que fossem avistados. Comentava-se que eram, sem dúvida, os tentáculos do Maligno porque quanto mais se matavam, maior parecia ser o seu número. Estavam por todo o lado, inclusivamente dentro das casas. Um édito real ordenou que fossem liquidados não só os gatos pretos, como também qualquer gato, porquanto potencialmente atentador do statu quo vigente. Com o correr dos tempos, o Sol foi perdendo o seu brilho. Aliás, agora eram muitos os dias de frio e de chuva, que, às vezes, se prolongavam por semanas inteiras. Por essa razão, o príncipe já não conseguia proporcionar ao seu pai todo o ouro de que ele necessitava para erradicar o grande mal que afectava o reino. Livre da maldição, o príncipe podia agora conversar com as princesas do seu reino, sem receio de as condenar a uma prisão atroz e perpétua. Mas o príncipe sentia-se cada vez mais infeliz. Ora, um dia, o príncipe recebeu a visita de uma águia que lhe disse que poderia reencontrar a felicidade se conseguisse quebrar o feitiço que a bruxa lhe tinha imposto: teria, para o efeito, que ser capaz de afirmar, sem receio, o seu amor por alguém. O coração do príncipe encheu-se de esperança, mas, rapidamente, uma lágrima de tristeza assomou ao seu rosto: mostrar o amor por alguém implicava apaixonar-se e assumir publicamente essa paixão. Ele bem se recordava do castigo que a bruxa lhe impusera: como não me amas, como não reconheces o meu amor, ficarás condenado a nunca conseguires ser feliz! O príncipe consultou então os astros, o Sol, a Lua e as Estrelas, mas também o Tempo e o Coração dos homens. Então, por acordo comum, o Sol se obscureceu e deu lugar às Trevas. E o príncipe-gato surgiu aos olhos de todos na varanda do palácio real. Com voz forte e potente, gritou: Sempre fui um Gato e um Homem, profundamente apaixonado pela Vida e é, com ela, e através dela, que quero viver! O Sol recomeçou a brilhar e o príncipe-gato tocou o Tempo e o Coração dos Homens. A maldição do feitiço tinha sido, finalmente, anulada. Desde esse dia, nunca mais se ouviu falar, nesse reino ou em qualquer outro da região, na peste negra e todos os gatos, assim como os outros animais, vivem num são convívio com os homens. O príncipe e a Vida, esses, vivem, desde essa época o seu romance de amor e, pelo que sei, ainda não deixaram de ser felizes.

2.1.08

Que modelo de desenvolvimento económico desejamos ter?

O petróleo está, neste momento, a 100 USD o barril. A perspectiva é que irá aumentar.
O estado social parece estar em desarticulação, com sucessivos estímulos à privatização dos serviços: a ideia é reduzir os custos com o pessoal e as remunerações. É um dos objectivos das chamadas reformas estruturais da economia portuguesa.
Parece-nos, pois, chegado o momento de ser efectuado um amplo debate e um referendo acerca do modelo de desenvolvimento económico que desejamos para o país. Esta é uma iniciativa que terá que ser promovida e suscitada pela sociedade civil, uma vez que o aparelho político e partidário resistirá sempre a encetar e a alimentar tal debate. De facto, a partir daí será o fim das ilusões em que temos vivido, independentemente das opções ideológicas que quisermos assumir.
Com efeito, o futuro, com o actual nível de impostos, implicará, mais cedo ou mais tarde, o surgimento de um estado política e economicamente alicerçado numa filosofia de acção neoliberal, muito próxima do modelo norte-americano. Colectivamente queremos esse modelo? Os que têm a minha idade nunca o experimentaram, mas tal de modo algum significa que ele não seja o modelo de desenvolvimento económico e humano óptimo. Parece-me é que esse debate deve ser feito, com seriedade e responsabilidade.
Porque ou os impostos aumentam (há países na UE em que a carga de impostos corresponde a 60% do rendimento bruto!), e aí é possível manter e alimentar o estado social, ou os impostos se mantêm (e eventualmente diminuem), mas o estado social será reduzido ao mínimo (é a filosofia do utilizador-pagador e afins)...

Manifestações pela paz da Comunidade Santo Egídio em 65 países

Governo do Quênia fala em "genocídio": mortos chegam a 300

A notícia é 1ª página em muitos jornais e agências noticiosas.
Não é suposto a União Europeia, e Portugal em concreto, encetar todos os esforços diplomáticos para resolver ou tentar pacificar a situação?
É que, ainda há umas semanas atrás, realizou-se em Lisboa, com pompa e circunstância, uma importante cimeira consagrada ao desenvolvimento económico e humano da África e, na altura, os líderes mundiais consideraram o acontecimento da mais elevada relevância...

1.1.08

Ainda sobre o nosso desenvolvimento cultural...

A entrada em vigor da nova lei que proíbe o consumo de tabaco em locais públicos fechados parece-me uma excelente ideia e uma medida corajosa e acertada.
Fiquei estarrecido com algumas respostas de fumadores a questões colocadas pelos jornalistas, na véspera da entrada em vigor da nova lei:
"Sim, vou continuar a fumar e considero uma descriminação não o poder continuar a fazer à mesa do restaurante!"
Pois é, está provado cientificamente que o tabaco mata e o povo continua na sua teimosia cega, prejudicando-se (é um direito individual, dirão alguns!), e, mais do que isso, prejudicando, com o seu egoismo, os outros, que têm que respirar o mesmo ar...
Parece-me que estas opiniões insensatas não estão muito longe da falta de civismo que se nota em muitos dos condutores portugueses, ou da falta de respeito mínimo com que muitos se tratam nos mais variados espaços.
Dirão alguns: é a especificidade do povo português!
Espero bem que seja um fenómeno passageiro e que o país MUDE e se desenvolva culturalmente, pois é, por aí, que a mudança das mentalidades (e toda a aceitação do outro que não tem que ser necessariamente igual a mim) pode ter lugar!
Um Bom Ano para todos!

Para que precisamos de um canal público de televisão?

O programa da passagem de ano de 2007-2008 foi absolutamente fascinante nos vários canais televisivos de sinal aberto.
Os canais privados brindaram-nos com concursos televisivos nos quais tivemos de aguentar um conjunto de aprendizes de cantores de 4ª categoria, com muita canção de gosto duvidoso. O que foi salvando a noite foi a possibilidade de ir fazendo zapping. Mas a pérola ficou reservada para o canal estatal: se a aposta na equipa do Gato Fedorento prometia alguma acção, a opção por um remake do reveillon de 1984-85 (?!???), com piadas desgastadas e tótós, deixa-nos um grande desconforto. Parece que, definitivamente, batemos no fundo!
(Salvou-se a RTP 2, com um filme, que deixou de lado a própria noção da passagem).
Se os canais televisivos podem ser considerados uma boa caixa de ressonância do estado de um país e do nível do seu desenvolvimento cultural, o novo ano só mostra que há ainda um longo caminho a percorrer...
E a questão coloca-se: para que precisamos de um canal público de televisão que é igual, no pior sentido, à concorrência privada?