A caixa de Pandora já foi aberta e todos sabemos como esta narrativa irá terminar.
A recente aprovação de mais um pacote com duríssimas e inexequíveis condições de austeridade, a cumprir pelo povo grego, sob imposição da Troika comunitária, mais não permitirá do que fornecer um ténue balão de oxigénio, tempo considerado mais do que suficiente para que os poucos fundos que ainda detêm dívida soberana grega a possam transaccionar no mercado secundário. Porque é exactamente disso que estamos a falar. Ganhar tempo para que os activos tóxicos possam ir parar a outras carteiras, permitindo que a bancarrota - o default, como agora se diz - seja organizada. Tudo isto é por demais evidente, já que nem os responsáveis políticos alemães o negam.
A Grécia está falida e vai declarar a
insolvência num espaço de tempo curto.
Aliás, não tem outra hipótese já que não produz nem vai produzir nada com medidas que destroem o parco emprego ainda existente.
A segunda parte da história é que a Europa é bem capaz de se desagregar, pelo menos, como dizíamos há uns tempos atrás, a actual configuração da União Europeia não deverá resistir ao que sucederá a seguir. Mais uma vez, importantes responsáveis políticos alemães já anteciparam e incorporaram esse cenário.
Como fica Portugal?
Muito mal. Aliás, todos os sinais demonstram já que o dito programa de ajuda externa não está a dar os resultados esperados e que, em breve, conheceremos o nosso futuro. Bastará acompanhar, com atenção, o que vai sucedendo na Grécia para percebermos o que nos espera.
Mas a história não termina aqui.
Há uma terceira parte e uma quarta parte e, provavelmente, muitas outras partes ainda antes que o filme termine.
Na Grécia, a violência contra os representantes do poder económico e político, e, em larga medida, contra os opressores, já se manifestou: surgiram cartazes, nas manifestações, apelando ao assassínio dos banqueiros, várias esquadras de polícia foram incendiadas, as lojas outlet de grandes marcas multinacionais foram vandalizadas e incendiadas, repartições das finanças arderam, assim como bancos.
Dir-se-ia - pelo menos foi essa a explicação oficial, foi um grupo de anarquistas violentos, porém as imagens controladas da televisão portuguesa mostraram o queimar da bandeira alemã.
Os
relatos que chegam directamente da Grécia assinalam a intensificação da repressão da população por parte das forças policiais gregas que chegaram a temer que a população ocupasse e incendiasse o parlamento, aonde se discutia a aprovação do famoso segundo pacote de resgate.
A Troika, liderada pelo governo alemão, tem vindo a impor e a exigir condições humilhantes ao povo grego. Fica-se com a ideia que o povo grego padece de um pecado original ou o que se lhe quiser chamar: é preguiçoso, corrupto, indolente, não trabalha, não produz e merece ser castigado, merece que sejam outros a dar-lhes ordens e a reconduzi-los à dita produtividade.
Este aspecto é tanto mais grave quanto sabemos, pela história, que a Alemanha Nazi ocupou a Grécia e que, em nome de uma ideologia de uma pretensa superioridade da raça ariana, dizimou vários milhões de habitantes europeus.
Aquilo que se passa hoje na Grécia deveria fazer-nos reflectir colectivamente sobre o que é a Europa e o que queremos que ela seja no futuro.
Pela minha parte, eu jamais vou aprender a falar alemão!