Esta é a questão colocada por uma crónica assinada por Bárbara Reis, no suplemento Ípsilon, do jornal Público, da passada 6ª feira, dia 7 de Dezembro. Se a questão em si parece risível, foi ela que fundamentou a decisão de despedir um cozinheiro de uma conhecida rede de hóteis.
Esta situação, tratada ao nível da justiça portuguesa, em complemento ao grande circo mediático actualmente instalado na capital, levam-me a perguntar se viveremos num país real ou num país a fingir? É que, pelos montantes envolvidos nesta cimeira UE-África (10 milhões de euros ?!??), pelas excentricidades dos personagens envolvidos (o episódio das tendas e da fauna....), pelo aparato (o bloqueio do trânsito na capital, não numa terrinha de província como aquela que, aparentemente, virá a receber o novo aeroporto; a segurança dos 3000 polícias mobilizados...), pelas benesses e mordomias (o banquete, na sala do trono! para 200 convidados....), pela atitude do politicamente correcto (a recepção, com honras de estado, dos senhores da guerra e de mais meia dúzia de tiranetes, tudo muito bem comportadinho, como é preciso e necessário, sem a presença de nenhum gato preto à mistura), tudo isto me leva a pensar que estamos perante uma produção digna de Hollywood ou, hipótese ainda mais crível, vivemos, de facto, no melhor dos mundos possíveis. Claro que os interesses económicos são mais fortes que esses meros pormenores técnicos dos direitos humanos e o país tem muito a ganhar, cultural, linguística e economicamente com esta cimeira. E se não ganharmos nada, não faz mal, tá-se bem, fica, pelo menos, a referência simbólica (porque esta coisa dos símbolos é, para nós, muito importante), tal como já ficou na história a designação do chamado Tratado Reformador de Lisboa...
Já agora, porque razão a comunicação social noticia a existência de uma cimeira paralela, liderada por organizações não governamentais? Para que é necessária uma outra cimeira se o mega-evento já se destina a resolver todos os grandes problemas que afligem as relações União Europeia-África? Será que coexistem, num mesmo espaço, duas realidades diferentes, retomando a metáfora dos filmes da série Matrix?
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