18.11.11

Carta Aberta


Há algum tempo, foi publicada, na revista, Stern uma “carta aberta” de um cidadão alemão, Walter Wuelleenweber, dirigida a “caros gregos”, com um título e sub-título: 

Depois da Alemanha ter tido de salvar os bancos, agora tem de salvar também a Grécia.
Os gregos, que primeiros fizeram alquimias com o euro, agora, em vez de fazerem economias, fazem greves.


Caros gregos,


Desde 1981 pertencemos à mesma família. 
Nós, os alemães, contribuímos como ninguém mais para um Fundo comum, com mais de 200 mil milhões de euros, enquanto a Grécia recebeu cerca de 100 mil milhões dessa verba, ou seja a maior parcela per capita de qualquer outro povo da U.E. 
Nunca nenhum povo até agora ajudou tanto outro povo e durante tanto tempo.
Vocês são, sinceramente, os amigos mais caros que nós temos.

O caso é que não só se enganam a vocês mesmos, como nos enganam a nós. 
No essencial, vocês nunca mostraram ser merecedores do nosso Euro. 
Desde a sua incorporação como moeda da Grécia, nunca conseguiram, até agora, cumprir os critérios de estabilidade. Dentro da U.E., são o povo que mais gasta em bens de consumo. 

Vocês descobriram a democracia, por isso devem saber que se governa através da vontade do povo, que é, no fundo, quem tem a responsabilidade. Não digam, por isso, que só os políticos têm a responsabilidade do desastre. Ninguém vos obrigou a durante anos fugir aos impostos, a opor-se a qualquer política coerente para reduzir os gastos públicos e ninguém vos obrigou a eleger os governantes que têm tido e têm. Os gregos são quem nos mostrou o caminho da Democracia, da Filosofia e dos primeiros conhecimentos da Economia Nacional. Mas, agora, mostram-nos um caminho errado. E chegaram onde chegaram, não vão mais adiante!!! 

Na semana seguinte, Stern publicou uma carta aberta de um grego, dirigida a Wuelleenweber:

Caro Walter,

Chamo-me Georgios Psomás. Sou funcionário público e não “empregado público” como, depreciativamente, como insulto, se referem a nós os meus compatriotas e os teus compatriotas. 

O meu salário é de 1.000 euros. Por mês, hem!... não vás pensar que por dia, como te querem fazer crer no teu País. Repara que ganho um número que nem sequer é inferior em 1.000 euros ao teu, que é de vários milhares. 
Desde 1981, tens razão, estamos na mesma família. Só que nós vos concedemos, em exclusividade, um montão de privilégios, como serem os principais fornecedores do povo grego de tecnologia, armas, infraestruturas (duas autoestradas e dois aeroportos internacionais), telecomunicações, produtos de consumo, automóveis, etc.. Se me esqueço de alguma coisa, desculpa. Chamo-te a atenção para o facto de sermos, dentro da U.E., os maiores importadores de produtos de consumo que são fabricados nas fábricas alemãs. 

A verdade é que não responsabilizamos apenas os nossos políticos pelo desastre da Grécia. Para ele contribuíram muito algumas grandes empresas alemãs, as que pagaram enormes “comissões” aos nossos políticos para terem contratos, para nos venderem de tudo, e uns quantos submarinos fora de uso, que postos no mar, continuam tombados de costas para o ar. 

Sei que ainda não dás crédito ao que te escrevo. Tem paciência, espera, lê toda a carta, e se não conseguir convencer-te, autorizo-te a que me expulses da Eurozona, esse lugar de VERDADE, de PROSPERIDADE, da JUSTIÇA e do CORRECTO. 


Estimado Walter,

Passou mais de meio século desde que a 2ª Guerra Mundial terminou. 

QUER DIZER MAIS DE 50 ANOS desde a época em que a Alemanha deveria ter saldado as suas obrigações para com a Grécia. Estas dívidas, QUE SÓ A ALEMANHA até agora resiste a saldar com a Grécia (Bulgária e Roménia cumpriram, ao pagar as indemnizações estipuladas), e que consistem em: 

1. Uma dívida de 80 milhões de marcos alemães por indemnizações, que ficou por pagar da 1ª Guerra Mundial; 

2. Dívidas por diferenças de clearing, no período entre-guerras, que ascendem hoje a 593.873.000 dólares EUA. 

3. Os empréstimos em obrigações que contraíu o III Reich em nome da Grécia, na ocupação alemã, que ascendem a 3,5 mil milhões de dólares durante todo o período de ocupação. 

4. As reparações que deve a Alemanha à Grécia, pelas confiscações, perseguições, execuções e destruições de povoados inteiros, estradas, pontes, linhas férreas, portos, produto do III Reich, e que, segundo o determinado pelos tribunais aliados, ascende a 7,1 mil milhões de dólares, dos quais a Grécia não viu sequer uma nota.

5. As imensuráveis reparações da Alemanha pela morte de 1.125.960 gregos (38,960 executados, 12 mil mortos como dano colateral, 70 mil mortos em combate, 105 mil mortos em campos de concentração na Alemanha, 600 mil mortos de fome, etc., etc.). 

6. A tremenda e imensurável ofensa moral provocada ao povo grego e aos ideais humanísticos da cultura grega. 

Amigo Walter, sei que não te deve agradar nada o que escrevo. Lamento-o. 

Mas mais me magoa o que a Alemanha quer fazer comigo e com os meus compatriotas. 

Amigo Walter: na Grécia laboram 130 empresas alemãs, entre as quais se incluem todos os colossos da indústria do teu País, as que têm lucros anuais de 6,5 mil milhões de euros. Muito em breve, se as coisas continuarem assim, não poderei comprar mais produtos alemães porque cada vez tenho menos dinheiro. Eu e os meus compatriotas crescemos sempre com privações, vamos aguentar, não tenhas problema. Podemos viver sem BMW, sem Mercedes, sem Opel, sem Skoda. Deixaremos de comprar produtos do Lidl, do Praktiker, da IKEA. 


Mas vocês, Walter, como se vão arranjar com os desempregados que esta situação criará, que por ai os vai obrigar a baixar o seu nível de vida, Perder os seus carros de luxo, as suas férias no estrangeiro, as suas excursões sexuais à Tailândia? 

Vocês (alemães, suecos, holandeses, e restantes “compatriotas” da Eurozona) pretendem que saíamos da Europa, da Eurozona e não sei mais de onde.

Creio firmemente que devemos fazê-lo, para nos salvarmos de uma União que é um bando de especuladores financeiros, uma equipa em que jogamos se consumirmos os produtos que vocês oferecem: empréstimos, bens industriais, bens de consumo, obras faraónicas, etc. 

E, finalmente, Walter, devemos “acertar” um outro ponto importante, já que vocês também disso são devedores da Grécia: 

EXIGIMOS QUE NOS DEVOLVAM A CIVILIZAÇÃO QUE NOS ROUBARAM!!! Queremos de volta à Grécia as imortais obras dos nossos antepassados, que estão guardadas nos museus de Berlim, de Munique, de Paris, de Roma e de Londres. 

E EXIJO QUE SEJA AGORA!! Já que posso morrer de fome, quero morrer ao lado das obras dos meus antepassados. 

Cordialmente,

Georgios Psomás

21.10.11

A porta do Inferno já está escancarada

Que a Europa está prestes a colapsar é já um dado adquirido por muitos. Hoje o Financial Times, na edição alemã, já se referia à recuperação do marco enquanto moeda de transacção.A Grécia deverá declarar a insolvência em breve - fala-se em círculos restritos que o haircut deverá andar pelos 70% ou perto disso, e talvez essa seja também a razão pela qual o nosso sector financeiro tem vindo a registar mínimos históricos sucessivos em bolsa - e o dominó que se irá seguir, imediatamente, arrastar-nos-á a todos para o inferno.
Ao mesmo tempo, as imagens que nos chegam do derrube do ditador kadaffi gelam-nos o sangue, tal como também a notícia que a pequena menina chinesa, atropelada por 2 veículos e ignorada por uma série de transeuntes, acabou de falecer.

17.9.11

Colapso em contagem decrescente

A Europa enfrenta actualmente um dos seus maiores desafios: sobreviver com a configuração que lhe conhecemos.
As notícias que nos chegam dessa mesma Europa revelam o quão frágil e precário é o entendimento acerca da manutenção do status quo. Temo bem que estejamos a assistir ao início do colapso de uma certa concepção do mundo que inaugurou auspiciosamente o novo século. O que se irá passar a seguir será, dados os ajustamentos estruturais que inevitavelmente se seguirão, pavoroso, principalmente para uma geração que aprendeu a viver em segurança e com uma certa qualidade de vida minimamente garantida.

O extracto do artigo que cito abaixo está publicado no site de análise político-económica do ZeroHedge.com

Eurozone must be honest: Big haircuts for bond holders, debt limits for all, says Die Zeit (article in German). The drama of saving European banks that hold Greek debt, and the debt of other tottering Eurozone nations, has been going on for a year and a half. Each effort to keep Greece on track follows the familiar script. Politicians promise spending cuts. Greeks demonstrate. E.U. inspectors check things out and leave angry. Germans declare that Greece will not get any relief until it fixes its problems. Then Greece notices that it needs yet more money and threatens to default. Germany nods. And the next installment gets paid.
By now, all hope for a happy ending has dissipated. Greece is suffering from a multitude of problems that defy quick fixes, among them a huge pile of debt, an inept and corrupt fiscal system where taxes are simply not collected, dysfunctional institutions, and a government-dominated economy. Even unlimited amounts of money can only defer the end game.
But there are already victims. The most recent one: The concept of an independent, apolitical central bank whose primary purpose is guarding the value of the currency, rather than monetizing the debt of countries that have spent beyond their means.

Wolf Richter - www.testosteronepit.com

10.9.11

11 de Setembro


O dia 11 de Setembro ficou, infelizmente, marcado na nossa memória colectiva pelas piores razões. O dia da barbárie. O dia da matança indiscriminada. O dia do ódio. A morte, o pânico, a destruição. Se o século XX foi marcado por duas guerras mundiais e mais não sei quantos conflitos regionais, o novo século, infelizmente, já tem essa chancela inaugural.

Hoje, somos todos americanos.

9.5.11

Notas Livres

Notas Livres: Memorando FMI (1) Pontos de Partida
Um muito interessante post acerca daquilo que nos espera num futuro excessivamente próximo. E face ao qual, infelizmente, já nada há a fazer.
Entretanto, os sinais de alarme vão soando: aos finlandeses, agora juntam-se os ingleses, recusando contribuir solidariamente para afastar o terrível espectro da bancarrota que actualmente paira sobre o nosso país.
Hoje ficou-se a saber que a nossa justiça vai averiguar o comportamento potencialmente criminoso das agências de rating internacionais que, grosso modo, avaliam a nossa capacidade financeira para honrar os compromissos que assumimos. Este país cada vez me dá mais vontade de rir! Que acontecerá se a nossa justiça concluir que as agências são culpadas? Quais serão as consequências???
Considero que devemos ser coerentes com os princípios que defendemos. Se achamos que os estrangeiros são injustos na avaliação da nossa capacidade para honrar, financeiramente, os compromissos que assumimos, considero que, muito simplesmente, deveríamos, em consonância, deixar de pedir emprestado. Ou, em alternativa, amortizar antecipadamente as nossas dívidas. Agora, mendigar 78.000 milhões de euros porque em risco eminente de bancarrota, e simultaneamente investigar o comportamento alegadamente criminoso das entidades que estudam os nossos dossiers financeiros e são determinantes para que os outros nos emprestem o pão nosso de cada dia é que não lembra a ninguém.
O regime encontra-se claramente em decadência acelerada e estes tempos, para além de risíveis, são assumidamente pouco recomendáveis para pessoas sensíveis.

19.4.11

Ideias práticas para o presente momento

Já todos sabemos que a situação é complicada e que tenderá, pelo menos numa primeira fase, a agravar-se.
Não vou aqui retomar a minha visão crítica acerca da situação, mas partilhar com os meus leitores alguns sites que podem representar boas oportunidades. 

Confesso que ainda não experimentei nada do que vou partilhar. Li informação e vi alguns comentários noutros locais.

Forretas - Site que, regularmente, oferece descontos em diversos serviços, desde alimentação, alojamento, tempos livres, etc. 

Good Life - Site do mesmo género do anterior.

Low cost Portugal - Viagens e estadias a preço reduzido, conforme o próprio título indica.

My Guide.pt - Site onde se pode efectuar o download de vouchers com descontos em restaurantes e hotéis de Portugal.

Se alguém conhecer mais alguma coisa ou tiver um testemunho, agradeço que o deixe na caixa de comentários.

15.4.11

Portugal: cenas dos próximos capítulos


Estamos a chegar ao fim. A bancarrota ainda não foi oficialmente declarada, mas já é, em surdina, assumida por quase todos. Os banqueiros já vieram lançar um grito lacinante. Claro que, para quem tem acesso à execução das contas, o grito dos banqueiros já tinha sido histericamente repetido vezes sem conta nos bastidores da grande casa.

Estamos falidos.

Agora que já se começa a perceber o circo em que vivemos e que a nave dos loucos se encontra definitivamente desorientada já se vão ouvindo rumores acerca da necessidade de nos libertarmos do euro para assim, segundo opinam certas vozes, recuperarmos a nossa soberania... Francamente, só me dá vontade de rir, embora a situação seja (e venha a ser) profundamente trágica e, podemos dizê-lo, final. A solução final! 

(Explico o que digo: sair da zona euro, com todas as dívidas associadas a esta moeda, seria a bancarrota imediata. E a convulsão social por longos tempos. A regressão para tempos anteriores ao século XIX. É que uma saída da zona euro implicaria um haircut da ordem dos 40-50% na nova moeda, com o consequente aumento da inflação nos produtos importados, facto trágico para um país que nem sequer produz aquilo que come. E depois haveria sempre dívidas - em euros - para pagar. Obviamente que o sistema financeiro entraria em colapso. Sobreviveria quem, com recursos em moeda estrangeira, pudesse, antecipadamente, emigrar.)

A nossa soberania não nos interessa para nada. Nunca nos interessou. Só é útil quando, em nome de interesses obscuros, dá jeito para manipular um certo sentido patrioteiro que alguns ainda possuem. Mas também estes são cada vez menos.

O que nos interessa a todos é que o nosso modo de vida, qualidade ou o que lhe quiserem chamar, possa permanecer com os padrões que possuímos ou que possa ser melhorado. Só isso. Nada, rigorosamente mais nada. Pátria, nação, o que quer que seja, nada disso existe já. Aliás é curioso que muitos evoquem esse termo quando se trata de mobilizar as massas: acontece no caso dos jogos de futebol (mas a equipa, por incrível, só tem um ínfima percentagem de jogadores portugueses!), acontece no caso das eleições (mas o que interessa a todos é o prato de lentilhas, por sinal, fruto dos colossais fundos estruturais que os estrangeiros nos têm enviado nos últimos 20 anos!), e julgo que acontecerá também noutras situações (o inimigo externo contra o qual é preciso lutar...)

Segundo noticiam os jornais cá do burgo, o FMI estará por cá durante os próximos 10 anos.

Não acredito. Quanto muito, estará por cá durante os primeiros 3 meses. É que, por essa altura – falamos em meados de Setembro -, ou as coisas se modificaram ou o pratinho de lentilhas acabará de vez e aí, sim, a bancarrota (ou eufemísticamente denominada reestruturação da dívida) será publicamente assumida.

Será que alguém ainda acredita que esta gente que vive neste cantinho da Ibéria vai alguma vez modificar os seus hábitos de vida e a sua mentalidade? Os nossos conterrâneos do norte da Europa ainda não perceberam o core da mentalidade dos cidadãos da Europa do Sul. Para além disso, a fronteira que nos separa é muito antiga, tem raízes históricas, não se afigurando passível de modificação porque um estrangeiro (que nos usurpou a soberania) nos vem dar ordens, ainda para mais com a ameaça de nos deixar morrer à fome...

Avanço que ainda vamos ouvir por aí alguém clamar pela necessidade de se recuperar a força e a raça dos lusitanos e de, activamente, lutarmos contra o centralismo dos colonizadores, as vozes e gentes do Norte da Europa...

Os próximos tempos serão deveras interessantes...

25.3.11

Bom senso e honestidade precisam-se. Urgentemente.


Quando todos sabemos a situação aflitiva em que se encontram as finanças públicas, com o risco iminente de falta de liquidez, impossibilitando o pagamento de remunerações, salários, pensões, e coisas tais, quando os títulos de dívida soberana portugueses deixam de ser aceites como colaterais para empréstimos por importantes instituições financeiras, exige-se um mínimo de bom senso e de transparência.
As recentes declarações do ainda primeiro-ministro José Sócrates Pinto de Sousa, em Bruxelas, clamando heroicamente o lema do “orgulhosamente sós”, não augura nada de bom. É que este discurso – porventura intencionalmente proferido para consumo interno – já não é entendido como minimamente consistente com a realidade dos factos e do mundo. E, além disso, faz soar as campainhas de alarme, provocando pânico junto de um povo tradicionalmente conhecido como recatado e calmo.
Para já, a acreditar no que refere o Diário Económico, provocou incredulidade face ao real estado de saúde do senhor primeiro-ministro.
Como digo, os tempos são muito complicados e sê-lo-ão ainda mais nos próximos anos: necessitamos de bom-senso e de honestidade da parte dos nossos representantes políticos. Urgentemente.

24.3.11

Censos 2011

Estou siderado!
A droga da aplicação informática do Instituto Nacional de Estatística está sempre a ir abaixo. Será que foi feita pela mesma empresa responsável pelo suporte informático do cartão do cidadão?

Estou para ver como é que vou conseguir preencher aquela informação toda...

20.3.11

Da última visita do Papa a Portugal

Conversa tida entre o Papa Bento XVI e o Ministro das Finanças, Dr. Teixeira dos Santos, aquando da última visita a Portugal:

Santo Padre: Meu filho, não PEC's mais!

Recebida por email.

8.3.11

Contagem decrescente


A recente vitória dos Homens da Luta no Festival RTP da Canção e a preocupação que alguns comentadores políticos manifestam face a isso pode ser o sinal de alarme de que algo vai muito mal no reino da Dinamarca.

Lendo a opinião de bloggers, comentadores e jornalistas, critica-se muito o facto de a geração que hoje tem 20 anos aspirar a um certo ideal de vida que os pais conseguiram. Argumenta-se que os tempos são outros e que, no quadro de uma economia neo-liberal, cada um deve tratar da sua vida, defendendo-se concomitantemente a necessidade imperiosa da existência de um Estado Social capaz de dar resposta aos mais fracos e desprotegidos. Mas, interessante é reparar, que o grupo da chamada geração à rasca não é incluído neste “lote” dos que devem ser apoiados pelo chamado Estado Social.

Não deixa de me causar estranheza aquilo que está a suceder até porque as aspirações desta geração são tão legítimas como as aspirações dos seus pais. É que todos (repito: TODOS!) fomos educados à luz de um paradigma ideológico que considerava que a marcha da história desembocaria num futuro radioso e muito melhor do que o presente. Recordemos o ideal iluminista da “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, que guiou tantos movimentos revolucionários até hoje! Recordemos o ideal que presidiu ao derrube do Muro de Berlim e ao fim do marxismo-leninismo na esfera da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas! Recordemos a crença exacerbada pelo Sr. Bush e seus acólitos na chamada economia de mercado!

Claro que, entretanto, aconteceu o 11 de Setembro e a partir de 2008 o mundo entrou numa crise profunda de consequências ainda não totalmente determináveis...

Ora, é neste contexto sociológico e politico-ideológico – um contexto que os filósofos Gilles Lipovetsky e Jean Serroy designam como o de uma “Geração Desorientada” – que fenómenos de intervenção cívica como os Homens da Luta ou de intervenção social como a Geração à Rasca têm lugar.

Custa-me a crer que gente com responsabilidade política ora desvalorize a situação – segundo alguns trata-se de uns grupelhos de contestatários ligados a organizações políticas situadas no extremo do espectro político – ora a considere um mero fenómeno de práticas carnavalescas, e, nesse sentido, responda negando a realidade do tsunami que cresce a cada hora que passa. Sim, porque, como me confidenciava há dois anos atrás, um colega que muito respeito e que, na ocasião, tinha importante responsabilidade política e social, o caldeirão está quase a estourar. E quando estourar estourará de facto! Esta geração que hoje se assume como parva e que se considera bastarda de um país que a não respeita é, de facto, uma geração composta pelos mais altos quadros: são jovens com elevadas qualificações académicas (mestrado e doutoramento), com um adequado conhecimento do mundo e acesso a redes sociais, e que, terminados os seus cursos, se vêem lançados ora num call center (a ganhar 250 euros por mês!) ora numa caixa de hipermercado (não sei quanto será a remuneração!) ora condenados a viver em casa dos pais ad eternum... Uma geração sem futuro ou com um futuro muito muito longínquo...

As pessoas com responsabilidade e, em particular, os senhores políticos deveriam olhar, com muita atenção, para esta situação e alcançar uma resposta consentânea. É que negar aos que têm hoje 20 anos a possibilidade de serem os actores do desenvolvimento colectivo do mundo que arquitectamos para daqui a 10 ou a 20 anos significa tão somente criar as condições para que situações muito pouco desejáveis possam vir a ocorrer por cá. E uma vez o circo ardendo não haverá água suficiente para apagar o fogo.

26.2.11

Este é o país que temos...

Segundo noticiam os jornais, uma ambulância do INEM que assistia uma idosa com sintomas de enfarte foi mandada retirar porque o carro de sua excelência o ministro tinha que passar....

E depois ainda há quem se indigne pelo facto de se morrer em Portugal e só se ser descoberto nove anos depois...

Uma pergunta: porque razão o canal pago com dinheiros públicos nos dá a toda hora tanta música e tanta animação? Visto do exterior, até parece que somos um país de gente muito feliz e muito animada...

(Tenho um amigo que me diz que sempre que ouve estes programas de variedades se lembra sempre do triste e trágico episódio do Titanic: enquanto o navio afundava, a orquestra continuava a tocar...)

Entretanto tudo indica que a bancarrota chega dentro em breve. Ou isso ou o FMI, que certos políticos tanto têm diabolizado... vai ser lindo vai.... ainda estamos para ver como é que vão descalçar a bota depois de tanto terem acusado os malditos especuladores de estarem a destruir o país e a soberania...

(Do chamado Estado Social, já nem falamos, tantas têm sido as escolas, hospitais e maternidades encerradas, os centros de saúde fechados, a redução dos apoios aos idosos e aos mais desfavorecidos, os cortes nos vencimentos dos funcionários da administração pública e das empresas estatais, a redução das pensões de reforma, o corte nos apoios ao transporte de doentes para os hospitais, o fim das comparticipações na maior parte dos medicamentos, a ideia de vir a impor um imposto para pagamento da saúde, etc, etc, etc....)

Os salários pornográficos e escandalosos dos senhores gestores das empresas estatais, com prejuízos avultadíssimos, esses, como seria de esperar, neste país de treta em que vivemos, são intocáveis, pois claro, assim é que é! Já dizia a minha avozinha, que Deus a tenha, que quem parte e reparte, fica com a melhor parte! Enfim, já nem apetece comentar pois tudo parece estar profundamente inquinado....

Devemos confessar que aquilo que nos divertiu mais nos últimos dias foi a afirmação do senhor Procurador Geral da República - homem muito bem informado e com um extensíssimo poder - que existiriam escutas ilegais em Portugal, orquestradas por entidades do Estado!!!! 

Já há tempos falámos aqui do circo que estava prestes a chegar à cidade. Parece que já cá chegou. Pelo menos a acreditar nas palavras do senhor embaixador norte-americano, que o jornal Expresso hoje noticia, parece que isto é, de fato, uma grande alegria...., mas, pelo menos, somos um país pequenino, mas de gente orgulhosa...

Parece que para a semana haverá desenvolvimentos. E dia 12 - já deverá ser conhecido, por essa altura, o pedido formal de resgate ou, para sermos mais sérios, já terá sido, por essa altura, imposto o plano de resgate (talvez eufemisticamente apelidado de plano de crescimento sustentado ou outra coisa qualquer porque o importante é manter tudo e todos na ilusão) - a nossa geração à rasca prepara o seu dia da raiva... a ver vamos se a manifestação, convocada pelo Facebook, não é liminarmente classificada como fruto de grupos similares aqueles que o senhor coronel Kadaffi considerou como estando na origem da revolução em curso na Líbia...



13.1.11

7/01/11

Ouço, neste momento, António Carlos Jobim e reflicto sobre esse brutal e chocante assassinato de que foi alvo o jornalista Carlos Castro. Confesso que os detalhes sórdidos com que a comunicação social nos presenteou e o contexto em que tal ocorreu - numa viagem à cidade da sua vida, acompanhado por aquele que ele julgava ser o homem da sua vida, num espaço onde não faltava nada, num quarto de um hotel de 5 estrelas no centro do mundo, com vista para o céu - me chocaram profundamente. E o choque advém também da traição terrível e sem perdão que foi cometida. Matar, tirar a vida a alguém que depositava nessa pessoa toda a confiança é algo que a minha inteligência não consegue compreender. Que razão poderia, alguma vez, ser invocada para justificar um tão hediondo acto?

Quando se ama, deposita-se na pessoa amada toda a confiança. Sabe-se que ela estará sempre disponível para nos proteger e para dar a vida em nossa defesa.

Ainda agora, passados quase 7 dias, não consigo compreender.
Quando tive conhecimento do sucedido, achei que haveria ali a assinatura de algo muito sórdido. Algo muito obscuro, algo subterraneamente conspirativo.
Cheguei a colocar a hipótese de alguém - exterior aos dois - ter cometido o assassinato e, por via de uma chantagem ou de uma ameaça de morte terrível, ter "convencido" o rapaz a confessar-se culpado.

Reconheço porém que esta hipótese minha é profundamente delirante.
Hoje, tal brutalidade é "explicada" à luz de um exorcismo que o assassino quereria efectuar no sujeito com que se relacionou. Tratar-se-ia de, possuído pelo desejo homossexual - e também atraído por ele - , liquidar esse desejo, assassinando o sujeito com quem se relacionara afectivamente e sexualmente.

Continuo sem entender nada. 

O assassino parece ser um psicopata, um doente perigoso. 

Se o "pecado" o traumatizou assim tanto, deveria ter procurado ajuda junto de quem o poderia redimir dessa culpa: um conselheiro espiritual, um amigo, um profissional da saúde, enfim, um ser humano que é capaz de entender o outro e ajudá-lo nas suas necessidades e anseios.


Continuo sem perceber o que leva um rapaz de 21 anos a destruir a própria vida e a destruir a vida dos que o rodeiam, tanto mais que nos dizem que ele era ambicioso.

Sinto uma dor profunda pelas irmãs do Carlos e pelos seus amigos. 
Sinto uma dor profunda pelos pais do rapaz.


Sinto uma dor profunda pelo Carlos e por aquilo que lhe sucedeu. E principalmente porque, com toda a certeza, ele teve consciência, embora já não pudesse fazer nada para impedir tal situação, que o ser mais importante da sua vida o destruiu. Essa foi - creio - a sua maior dor.