11.5.13

Das salas de chat e outras considerações

Não sei se algum dos leitores deste blogue alguma vez visitou uma sala de chat. Se nunca o fez, não deixe de o fazer, até porque, sociologicamente falando, é muito interessante conhecer a fauna que por lá saltita.
Há salas de chat para todos os gostos, interesses e feitios. Para os amantes da bola, para os habitantes de uma certa região, para os que buscam amizades e para os que, estando numa grande ansiedade, procuram algo tão simples como um parceiro ou uma parceira para uma hora tórrida de sexo.
Os nicknames já nos podem proporcionar uma antevisão do delírio de quem está do outro lado. Atendendo a que este é um blogue lido por maiores e também por menores, escuso-me a dar exemplos, deixando, porém, à imaginação dos leitores a liberdade de encontrarem tudo o que, humanamente, é possível existir...
Estabelecendo a comunicação, mesmo nas salas de chat mais pretensamente não marcadas ou menos sexualizadas, indubitavelmente o participante tem de aprender a comunicar com um outro código linguístico que não o da norma culta. Há que aprender a interagir por meio de abreviaturas, palavras cheias de erros ortográficos e todo um sem número de itens que fazem desta forma de comunicação uma espécie de grau zero da linguagem.

Depois, o participante tem que estar apto a responder rapidamente a questões como a idade, o local de onde tecla e os interesses que o levam a encontrar-se naquele local e naquela hora com uma fauna tão específica. E os interesses, se quiser manter a comunicação, não podem passar por filosofia, literatura, cinema, política ou cultura. Tudo se resume à resposta a uma pergunta: queres real? Diz o local e a hora.

Tenho a sensação que anda tudo doido.
Não acredito que a voracidade de viver tudo a toda a hora e tão intensamente com tant@s parceir@s seja sequer exequível.
Talvez haja alguém, no meio de um delírio colectivo, alimentado pela voracidade do mundo tecnológico contemporâneo, que, de facto, frua e se sinta realizado. Quanto à grande massa, esses parecem-me indubitavelmente condenados à frustração e à loucura.

Até as gaivotas fogem para terra...

Os tempos definitivamente já não são o que eram.
Sente-se um ar pesado, um ar de chumbo. Pressente-se que algo vai muito mal no reino da Dinamarca.
Até as gaivotas, habituais habitantes de um espaço onde a fronteira entre a terra e o mar se estabelece, decidiram voar para terra, bem dentro e grasnam, como loucas, voando em círculo por cima da janela do meu quarto. Quem me conhece sabe bem que o mar dista do meu quarto perto de 50km e que não há curso de água nem perto nem longe.
Alguém mais avisado dirá que este é o sinal de que a tempestade se aproxima, uma tempestade devastadora, tsunâmica, arrasadora de todos os habitantes marinhos e de alguns terrestres. Não sei. Francamente não sei.
As cabeças bem pensantes e iluminadas continuam a afirmar que estamos no bom caminho. Que tudo o que estamos a passar é um sinal arrebatador do sucesso. Que tudo isto é muito bonito. E que o povo aguenta tudo, ai aguenta aguenta...!
Não tenho tantas certezas.
Mas o futuro aí estará para confirmar ou infirmar estes modos inusitados de olhar o mundo. Espero poder sobreviver ao que aí vem.