A Europa enfrenta, nas próximas semanas, um dos momentos mais decisivos da sua história recente.
As informações provenientes das principais agências noticiosas internacionais apontam para a existência de "planos de contingência" caso a Grécia venha a abandonar o euro. As declarações de líderes políticos europeus não são nada securizantes. Parece que o apocalipse estará prestes a ter lugar.
Estas notícias, acrescidas daquilo que está, neste momento, a suceder na Grécia - com o povo em pânico, armazenando bens alimentares e concretizando aquilo que os anglo-saxónicos designam como um bank-run, além dos 3000 suicídios já registados desde o início da crise - , não auguram nada de bom para um projecto europeu comum que se desejava solidário e capaz de, assegurando crescimento económico, garantir simultaneamente direitos sociais para todos.
O que penso eu disto tudo?
Três notas apenas para explicitar o meu ponto de vista:
1) Líderes fracos são sempre um problema acrescido para todos. A Europa tem um presidente da Comissão que não lidera, que apenas é ouvido quando fala em público. Parece que a Europa tem um presidente, cujo nome é praticamente desconhecido dos europeus, e cujo papel não se sabe muito bem qual é. Só uma voz se ouve na Europa: a da senhora A. Merkel, clamando e ameaçando quem com ela não concordar, por mais e mais austeridade. Ainda que a receita da austeridade e a punição exemplar dos gregos tenha, para já, levado 5 países à recessão (e alguns deles ao colapso económico-financeiro) - são 5 sim, ainda que um deles formalmente ainda não tenha solicitado o resgate! - , a senhora Merkel continua e continuará a insistir na mesma tecla. Como disse antes, líderes fracos ou líderes medíocres são sempre um problema para todos.
2) O problema de ver o mundo à luz da ideologia. Predomina na Europa uma ideologia neo-liberal, segundo a qual o importante é reduzir os custos para aumentar a competitividade. Esta ideologia tem uma outra faceta: os gastos sociais devem ser eliminados pois cada um deve gerar riqueza para si próprio. Como se operacionaliza esta ideologia? Do modo mais linear que se possa imaginar: cortam-se os salários de quem trabalha para gerar uma deflação interna. Teoricamente os custos de produção são reduzidos e, portanto, a produtividade aumenta no sentido em que se possam vender os produtos por um preço menor. Ideologia de cartilha ou da treta! Há um reverso da moeda que esta ideologia omite: a deflação interna gera redução do consumo, gerador, por sua vez, de desemprego, tipo pescadinha de rabo na boca... O Japão experimentou esta receita no passado e há 25 anos que se encontra em processo de deflação... Obviamente que não é desta forma que se vai gerar crescimento económico e geração de emprego! Acrescente-se, no caso europeu, globalmente considerado, que há uma dívida enorme para pagar, a qual só pode ser paga se existir crescimento económico... Acho que este aspecto já foi suficientemente explicado e não é necessário dizer mais nada...
3) O lugar das pessoas no mundo económico. A revolução bolchevique, em 1917, foi desencadeada por um forte sentimento de opressão que os trabalhadores fabris sentiam na então Rússia czarista, tendo originado uma ditadura terrível e mortífera cuja memória ainda causa horrores a quem a viveu de perto. Hitler ganhou eleições e subiu ao poder no rescaldo de um país devastado pela 1ª guerra mundial, e pelas humilhações e compensações financeiras que teve de pagar aos vencedores. Não será necessário relembrar todo o pavor e a cultura da morte que se instalou por esta Europa fora... Receio muito que o momento actual que vivemos esteja a criar as condições para o ressurgimento de algo profundamente perigoso e pernicioso para todo o agir colectivo.
1 comentário:
Considerações muito correctas sobre uma situação que está a ser levada com demasiada ligeireza por esses políticos medíocres que referes.
Tenho medo de vir a sofrer outra vez a força de uma ditadura...
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