31.7.08

Um pouco de António Maria Lisboa...

Eu menino às onze horas e trinta minutos
a procurar o dia em que não te fale
feito de resistências e ameaças - Este mundo
compreende tanto no meio em que vive
tanto no que devemos pensar.
(,,,)
Tanta metafísica eu e tu
que já não acreditamos como antes
diferentes daquilo que entendem os filósofos
- constitui uma realidade
que não consegue dominar (nem ele próprio)
as forças primitivas
quando já se tem pretendido ordens à vida humana
em conflito com outras surge agora
a necessidade dos Oásis Perdidos.
E vistas assim as coisas fragmentariamente é certo
e a custo na imensidão da desordem
a que terão de ser constantemente arrancadas
- são da máxima importância as Velhas Concepções pois
a cada momento corremos grandes riscos
desconcertantes e de sinistra estranheza.
Resulta isto dum olhar rápido sobre a cidade desconhecida.
E abstraindo dos versos que neste poema se referem ao mundo humano
vemos que ninguém até hoje se apossou do homem
como o frágil véu que nos separa vedados e proibidos.
António Maria Lisboa - Poesia

2 comentários:

paulo disse...

conheço muito mal este poeta. por isso, fiquei a olhar estas palavras com o deslumbramento de quem é descoberto: "tanta metafísica eu e tu..." acho que é por aqui: o pragmatismo diário não dá espaço para grandes metafísicas. de qualquer modo, ela - a metafísica - está sempre lá, entre "eu e tu".

Kapitão Kaus disse...

Olá Paulo:)
Este é um poeta excepcional, apesar de ter morrido precocemente e de a família lhe ter destruído quase todo o espólio, cega pela incompreensão em relação ao homem e à sua obra. Escaparam alguns textos que foram compilados e dados à estampa pelo Mário (Cesariny).
Mas os textos são muito belos e merecem ser lidos:)
Abraço:)