É extraordinária a forma como vemos e vivenciamos os lugares.
Dois lugares ocupam um lugar importante na minha vida: as cidades de Porto e de Lisboa.
Da primeira, recordo a emoção que sentia quando a visitava e percorria as suas ruas e lugares. Era uma espécie de experiência iniciática que eu repetia a cada visita, percorrendo os mesmos caminhos, deliciando-me com os mesmos lugares, que eu já conhecia de tantas vezes lá ter ido. Perdeu todo o encanto quando o meu Amigo partiu.
Relembro-me como se fosse hoje. Foi num dia vigésimo quinto, numa tarde chuvosa e carregada que recebi o telefonema da família. Lembro-me de ter percorrido os mesmos caminhos, os mesmos lugares e de ter reparado nas árvores, nas pessoas, no céu, nas gaivotas e de me ter sentido um estranho. Estranho porque incapaz de vivenciar as emoções felizes do tempo em que me sentia acolhido nessa bela cidade.
Ainda hoje, e já lá vão vários anos, não voltei a experimentar a mesma emoção que sentia antigamente. Ficou a saudade e essa não tem cura.
Da segunda, vejo-a novamente como um local de trabalho. Se ela foi para mim sempre sinónimo de preocupação profissional, a partir de certa altura, ela passou a ser vivenciada como um local profundamente aprazível e fruitivo. Com a ajuda certa, pude redescobrir a grande cidade, os seus jardins, as suas praças, os locais onde a vista se espraia e a alma descansa. A cidade passou a ter, para mim, o encanto da experiência iniciática já vivenciada noutro local e noutra época.
1 comentário:
As vivências do passado, mesmo dolorosas, ou principalmente estas, é muito difícil desaparecerem; diz-se que o tempo tudo apaga, eu diria antes: "quase tudo".
Abraço.
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