15.8.08

Da retórica à acção: uma nova guerra fria?

A escalada de violência simbólica e verbal, detectável há já alguns meses (lembremo-nos do bloqueio energético imposto pela Rússia à Ucrânia e à Lituânia; a crise do chamado escudo de defesa anti-missil norte-americano na Polómia e na República Checa), conhece, nos dias de hoje, novos desenvolvimentos: às provocações de uns e de outros, a Geórgia vê o seu estado invadido e ocupado e a Polónia vê-se como alvo de um potencial ataque nuclear russo. Paralelamente, o xadrez militar desenrola-se simultaneamente em toda a zona do Médio Oriente. E a China, tecnologicamente evoluída, lá vai mantendo a sua paciência de chinês, provavelmente porque se encontra ocupada com os Jogos Olímpicos.
A Europa parece ter entrado numa nova guerra fria que corre o risco de degenerar numa guerra muito quente.
Os analistas políticos sublinham, todavia, que este será um passo que, a bem de todos, não deverá ser executado, sob pena de uma devastação e de uma espiral de consequências inimagináveis.
Mas, colocando a questão de um ponto de vista mais cínico, recordo-me de um amigo meu que me dizia, com conhecimento de causa, que, em qualquer conflito, há sempre perdedores e ganhadores, e que as guerras são más para os que as sofrem, mas podem permitir que alguns, normalmente poucos, ganhem imenso. Há toda uma indústria que se desenvolve e floresce, criando emprego, a qual, aquando da reconstrução dos países devastados, se replica e se transforma, originando afluxos financeiros às empresas e às nações vitoriosas. Ora, todos sabemos que o mundo atravessa actualmente uma grave crise, com incidência mundial: desemprego, fome, injustiças, etc, daí que os impulsos para os conflitos armados não sejam, de modo algum, dispiciendos...
A questão que pode colocar-se é a de saber se um confronto armado às portas da nossa Europa, com o nível de acção que a retórica belicista está a tomar, permitirá que sobreviva alguém para contar a história.
Se sobreviverá alguém ou não, não o sabemos. Nem tão pouco se tal conflito virá alguma vez a acontecer. Pela nossa parte, esperamos e rezamos para que um tal conflito não venha nunca a ter lugar!
Porém, a história da humanidade demonstrou, até hoje, que muitas guerras, algumas delas bem crúeis e profundamente devastadoras, foram já travadas e que sempre alguém sobreviveu. E que muita gente sofreu. E que alguns ganharam com a morte e o sofrimento alheio. Daí que a tentação seja, infelizmente, grande...

2 comentários:

João Roque disse...

Será que a outra chegou a acbar, ou apenas tem estado hibernada?
Gostava que lesses o meu próximo post.
Abraço.

H. Sousa disse...

«Mas, colocando a questão de um ponto de vista mais cínico, recordo-me de um amigo meu que me dizia, com conhecimento de causa, que, em qualquer conflito, há sempre perdedores e ganhadores, e que as guerras são más para os que as sofrem, mas podem permitir que alguns, normalmente poucos, ganhem imenso.»

Aí é que está!