16.8.08

Portugal e Jogos Olímpicos de 2008

A participação portuguesa nos Jogos Olímpicos desiludiu muito. Se a fasquia era a de ganhar 4 medalhas e não sei quantos pontos, o resultado ficou muito longe. Perdemos. Não ganhámos. Acrescente-se a esta má prestação dos atletas portugueses as declarações infelizes que nos foram chegando através da comunicação social e dos blogues.
Teria sido prudente não embarcar em declarações ficcionais e assumir que iríamos a Pequim ganhar o que fosse possível atendendo ao país que somos e aos investimentos que fazemos nas diversas modalidades. Isso sim, teria sido inteligente. Mas não foi o que sucedeu. Inspirados pela retórica Scolari, afirmámos, à partida, que erámos os maiores e que iríamos lá para trazer X medalhas para o país. Asneira, e da grossa! Aliás, como é hábito!
Uma coisa que sempre me causou imenso espanto reside na nossa incapacidade colectiva para percebermos que, de facto, não somos nem podemos aspirar a ser os melhores em tudo. Se calhar esta ignorância colectiva deriva de alguma lavagem ideológica que teremos sofrido no passado: lembram-se de termos estudado que fomos nós, portugueses, os senhores dos mares e de um império sem igual? O problema é que estas coisas, na altura, até se podiam dizer e afirmar e repetir sem grandes consequências. Não havia termo de comparação. Eramos os maiores e ponto final no caso! Todavia, já nessa época, os espanhóis eram tão maiores quanto nós e aquilo que ficou da história foi que os ingleses, pelos vistos, ainda foram maiores do que quaisquer outros!!! Mas esses eram piratas, e por isso não contavam...
Já agora, porque razão é que, quando certa comunicação social fala de um qualquer jogador português que está a trabalhar num clube estrangeiro se refere a esse clube como sendo a equipa de Cristiano Ronaldo ou a equipa do Figo, etc? Será que ainda não assumimos que nós existimos e que os outros também existem? E que eles até têm maiores capacidades financeiras (por exemplo) do que nós? E que são melhores em múltiplos campos do saber e da acção?
Porquê continuar a tentar esconder o sol com a peneira?
Ou será que, quem diz e promove esta maneira de ser e de agir, está plenamente convicto das suas afirmações? Se assim é, então, vivemos definitivamente no reino de Matrix e das historinhas da carochinha... 

6 comentários:

João Roque disse...

Muito pretinentes considerações sobre a participação portuguesa, até agora, nos J.O.
Tirando algumas disparatadas tiradas de um dois atletas, não são estes os maiores culpados ou não haverá mesmo culpados; como bem referes, quem criou expectativas e os media ajudaram nisso, é que deviam estar calados.
E penso que a pressão sobre os nossos maiores trunfos: Vanessa, Naíde e Nelson, é agora enorme e em nada os ajuda.
Quanto ao Francis, merecia estar na final, pois ganhar seria impossível, e no caso dele, pode dizer-se que teve azar. pois houve sempre falsas partidas nas suas séries, o que muito o afecta, tendo partido super mal na meia final; e os 100 metros não dão para recuperações...
Abraço.

Anónimo disse...

Neste país só se vê futebol. É um milagre os nossos atletas serem apurados para as competições em que participam com os apoios e as ajudas que têm. Por mim, tenho enchido a vista, sempre que posso (Eurosport), com imagens verdadeiramente de desporto! Pertinente post, amigo!

Anónimo disse...

Ah, é verdade: o império sem igual é retórica que nos foi incutida pelo Estado Novo, eu também ainda apanhei essa escola primária... Era um conjunto de capitanias de porto para fazer comércio, e pouco mais... Aspirações continentais, só no século XIX, e, para não destoar, inspiradas pelos ingleses, que logo nos puseram travão, pois já estavam habituados a administrar terra adentro, nomeadamente controlando aquilo que nós não sabíamos administrar devido à secular mania das grandezas (ganhar e roubar muito e em pouco tempo para tudo gastar logo a seguir), como foi o caso da Índia. Foi isso e vender pretos, já que a costa africana não dava especiarias... Pessoalmente, estou um bocado farto das esferas armilares e das cantigas de pacotilha no que se refere ao império!

Anónimo disse...

Se o dinheiro gasto nos JO desse para fomentar a prática do exercício físico...

Acho que este já são os segundos JO aos quais eu não ligo pêvas...

Prefiro fazer o meu exercícizinho e alongamentos e ficar muito feliz por isso.

enGine

Hydrargirum disse...

Boa pergunta...acho que enqt houver peneira ha a ilusao de que este Pais nao esta de rastos...

Mas sabes uma coisa que te digo....e por comparacao com o que conheco la de fora...as coisas tb nao funcionam la melhor...tb temos coisas boas ca...o pior mesmo e quem esta a frente desta Ofiussa!

Ag:)

Restelo disse...

"não somos nem podemos aspirar a ser os melhores em tudo". Mas nós somos os melhores nalguma coisa??
Ah, já sei!! Somos os melhores na iliteracia, no não-desenvolvimento, no aumento de impostos... Afinal somos os melhores num montão de coisas!!