11.11.08

Quotidianos IX

Viajou todo o santo dia. Chegou, já tarde, ao seu destino, mas chegou bem. A noite mostrava uma bela lua cheia e afigurava-se muito promissora para outros contextos. Não que não lhe apetecesse, afinal, todos somos humanos... mas o insólito e a transformação tiveram lugar nessa noite. 
Chegado ao quarto, começou por se descalçar e pôr-se à vontade. E decidiu vestir algo mais confortável. Contudo, por muito que tentasse - ora com a chave, ora recapitulando e reorganizando os dígitos, a sua mala (aquela onde viajava praticamente tudo, desde a roupa interior à gravata que usaria na importante reunião com os empresários da multinacional com quem se viera encontrar) simplesmente recusava-se a abrir. Era uma mala muito senhora de si, muito guardadora de todos os segredos mais inconfessáveis.
Olhou. Encarou-a. Colocou-a noutra posição. Sentou-se, mirando-a. Levantou-se e olhou-a fixamente. Tentou, mas nada. A tampa simplesmente não abria. A filha da **e já não lhe ligava nada. Nem com chave, nem com dígitos. Nada. 
Ali estava ela, imponente e gozando-se do seu kapitão. Seu, salvo seja!
Recordou-se então das aventuras que já vivera com a menina do GPS e veio-lhe uma fúria que o transtornou e o transformou. Agarrou-se a ela e disse-lhe: vais ter que ceder!
(É preciso acrescentar, para evitar alguns desvarios mais estranhos, por parte dos leitores, que o kapitão se socorreu de uma chave de fendas e que, encontrando um espaço mínimo, a cravou e, qual lobisomem enfurecido e enraivecido, ficou vitorioso ao fim de alguns minutos)
Para criar mais ênfase, poderíamos dizer que, nesse momento, o céu se toldou e a lua deixou de brilhar. Os outros hóspedes sentiram um friozinho na espinha e o nosso kapitão... mas não o faremos, pois seria inteiramente falso.
Bom, já com acesso a tudo quanto necessitava, teve, no dia seguinte, ainda antes da reunião com os empresários, que ir adquirir uma nova mala. Aí a vigança dela fez-se notar com particular clareza e o nosso kapitão que, até hoje, sempre disse não acreditar em bruxas, já decidiu reformular as suas crenças: Yo no credo en brujas, pero que las hay, hay!
De facto, após ter entrado e saído de diversos estabelecimentos comerciais, o nosso kapitão encontrou uma jovem senhora que lhe disse textualmente o seguinte: yo soy española, estoy en España y hablo castellaño. A usted no lo comprendo!
E assim têm sido as deambulações do vosso kapitão por este mundo fora...

4 comentários:

Tongzhi disse...

Achei a história deliciosa, desculpa a franqueza!!!
Numa situação semelhante, acho que me ia a ela, à mala, e rebentava-a!!!

João Roque disse...

Eu ia-me era à gaja!!!!

Kapitão Kaus disse...

Olá Amigos:)
Nunca me tinha acontecido uma situação tão insólita como esta... mas, enfim, deu para eu me divertir um bocado, embora a mala tenha ficado para ir para o lixo.
E a gaja, bem, valeu eu estar numa terra que não é a minha...
Mas como já comentei com um Amigo, acho que esta gaja é prima de uma outra, que, na minha terra, se comportou como uma verdadeira v**a!

JJ disse...

Uuuuiii, arrepiava-me todo. Gostei muito da história